Crítica de Zona de Interesse
- mindinmaia
- 27 de fev. de 2024
- 2 min de leitura
Na contramão da maioria das produções cinematográficas que tratam dos
horrores da segunda guerra mundial, onde a melancolia e a brutalidade visual são os alicerces da produção, Jonathan Glazer trilhou um caminho bem peculiar para contar uma história que, retirado o conflito, não passaria de uma rotina familiar tradicional. E isso, sem sombra de dúvidas, é o maior horror de Zona de Interesse: a normalidade.
Atenção: ironia no parágrafo seguinte.
O longa acompanha a vida puxada de um trabalhador, pai de família, que mal tem tempo de abraçar seus filhos, mergulhado num emprego importantíssimo, que suga todo seu vigor. Em paralelo, vemos sua esposa, dando duro para criar seus filhos, que ficam isolados em casa, à espera do patriarca provedor. Sim, esta é a sinopse de Zona de Interesse, porém, só metade. E essa é a sensação que se tem ao assistir boa parte do filme “até os limites dos muros”. Afinal, a família em questão, além de ser chefiada por um comandante alemão nazista, reside, literalmente, ao lado de
Auschwitz, o mais brutal campo de concentração.
Poucos filmes incomodam tanto visualmente, sobretudo quando se vai além
dos muros da residência. Aliás, é recorrente a quem assiste, arregalar os olhos para cima e para baixo, enquanto assiste, como uma criança curiosa querendo saber o que se passa além de seus limites confortáveis. Porém, em produções com relevante horror gráfico, costuma-se fechar os olhos para cenas mais pesadas. Pensando nisso, Glazer adicionou caos não apenas no que vemos, mas, também no que ouvimos.
Logo em seus primeiros minutos, Jonathan deixa explicito que não se deve
assistir o que vem pela frente apenas pelo que se vê. A tela preta com a incômoda trilha é um aviso e um manual de instruções de como apreciar cada minuto do longa, em todos os sentidos. Algo similar foi proposto e efetuado com sucesso pelo diretor em 2013, com Sob a Pele, mas tematicamente distintos (seria um ensaio?). Afinal, é comum, num plano sequência, acompanhar uma discussão entre familiares. Incomum
é observar isto enquanto se vê e escuta, além dos limites da propriedade, fumaça de trens lotados chegando para testes nas primeiras câmaras de gás, aprovadas pelo patriarca Rudolf Hoss.
Zona de interesse consegue passar a sensação de normalidade na rotina e nos atos expostos, nos mergulhando no drama, que cresce no passar dos atos. Quando o comodismo com os personagens começa a bater, o diretor, como com um beliscão, nos faz abrir os olhos para a metade de cima da tela. O holocausto existiu e ficará marcado para sempre como o maior genocídio da história da humanidade. A história precisa ser entoada sempre, para que não seja fadada à repetição. Infelizmente, os ecos ouvidos por Hoss nos arrepiantes momentos finais do longa, reverberam até hoje.
★★★★★ 5/5












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