Crítica de Sing Sing

Sing Sing, uma prisão localizada a aproximadamente 48 km ao norte da cidade de Nova York e que abriga cerca de 1.700 detentos, serve de cenário para uma história real que inspirou o emocionante filme de mesmo nome. Baseado na trajetória de John "Divine G" Whitfield, que passou cerca de 25 anos encarcerado por um crime de homicídio que não cometeu, o longa traz uma narrativa poderosa sobre redenção, arte e humanidade.

Durante seu tempo na prisão, Divine G encontrou um novo propósito ao se envolver no programa de Reabilitação Através das Artes (RTA), no qual liderou um grupo de teatro formado por outros detentos. Na vida real, John foi libertado em 2012, mas continuou a contribuir ativamente para o programa e chegou a co-escrever o roteiro do filme Sing Sing. Sob a direção de Greg Kwedar e com Colman Domingo no papel principal, o longa tem sua estreia no Brasil marcada para 13 de fevereiro.

Um dos aspectos mais marcantes do filme é a autenticidade de seu elenco. Além de contar com atores renomados, como Colman Domingo, Sing Sing traz ex-detentos que participaram do programa RTA na vida real, agregando uma camada extra de realismo e emoção à produção.

Logo no início, somos apresentados ao sistema carcerário estadunidense e ao RTA, durante uma reunião do grupo de teatro. Os integrantes decidem abrir vagas para novos participantes, e Divine G enxerga potencial em Maclin, um presidiário com um estilo de vida diferente do restante do grupo. Após uma entrevista, Divine G reafirma seu talento e o acolhe no projeto. A partir desse ponto, a trama se desenvolve com a escolha da nova peça e a distribuição dos papéis.

Um detalhe curioso é que as cenas em que os personagens fazem testes para os papéis da nova peça utilizam gravações reais das audições para a escalação do elenco do filme. Essa decisão fortalece a proposta de imersão e verdade que a produção busca transmitir. Sing Sing não se destaca por efeitos visuais exuberantes ou recursos técnicos de ponta, mas sim pelo seu roteiro profundamente humano e tocante.

O programa de teatro proporciona aos detentos um verdadeiro processo de reabilitação, permitindo que expressem sentimentos, lidem com traumas e desenvolvam habilidades interpessoais. A arte não apenas os transforma individualmente, mas também fortalece o senso coletivo dentro da prisão. O compartilhamento de emoções, risos e lágrimas os torna mais vulneráveis, humanos e capazes de aprender uns com os outros.

Destaque absoluto para Colman Domingo, cuja atuação é de uma intensidade e profundidade impressionantes. Seus gestos, expressões e silêncios comunicam muito além das palavras, tornando sua performance uma das mais memoráveis do cinema recente.

O filme tem uma duração precisa, sem excessos, e consegue emocionar e humanizar sua narrativa sem cair no sentimentalismo fácil. Ao abordar a ressocialização de detentos, Sing Sing desafia o olhar da sociedade, que frequentemente enxerga os encarcerados como irremediavelmente perdidos.

A história mostra que a arte pode ser um caminho para a reabilitação e que essas pessoas também merecem uma segunda chance.

O impacto do programa RTA é tão significativo que menos de 5% de seus participantes retornam à prisão, um índice bem inferior à média nacional dos EUA.

Não por coincidência, Sing Sing foi indicado ao Oscar 2025 em três categorias: Melhor Ator para Colman Domingo, Melhor Roteiro Adaptado para Greg Kwedar e Clint Bentley, e Melhor Canção Original por Like a Bird, composta por Adrian Quesada e Abraham Alexander.

Outra curiosidade interessante é que o filme foi o primeiro a ser lançado simultaneamente nos cinemas e em prisões nos Estados Unidos, reforçando ainda mais sua mensagem de inclusão e esperança. Além disso, a produção garantiu uma remuneração justa para todos os envolvidos, estabelecendo que todos os membros da equipe recebessem o mesmo salário, independentemente do cargo.

Sing Sing é uma obra singular, de altíssima qualidade e profundamente emocionante. Mais do que um filme, é um manifesto sobre o poder da arte na vida das pessoas e a capacidade de transformação do ser humano. Vale muito a pena conferir essa história que ilumina um projeto tão fundamental e necessário.

★★★★★ 5/5