Crítica de Pisque Duas Vezes
- mindinmaia
- 23 de ago. de 2024
- 2 min de leitura
A estreia de Zoë Kravitz na direção, Pisque Duas Vezes, começa com uma proposta promissora, mas não consegue atingir o seu potencial. Kravitz almeja criar um thriller de terror inteligente ao estilo de Corra!, apresentando uma trama onde um grupo seleto de pessoas é convidado a uma ilha privada de ricos, onde tudo começa a desandar.
Nesta história, a ilha pertence ao bilionário da tecnologia Slater King (Channing Tatum), que convida duas garçonetes, Frida (Naomie Ackie) e Jess (Alia Shawkat), que se disfarçaram para entrar de penetra em sua luxuosa festa. Frida, que tinha o objetivo de chamar a atenção do bilionário, vê isso como a realização de um sonho.
O filme começa com uma pegada de conto romântico, com Frida e Jess sendo levadas em um jato particular, brindando com champanhe e se acomodando em uma estadia repleta de roupas elegantes e jantares luxuosos. Porém, uma tensão sutil começa a se insinuar.
Apesar de momentos iniciais intrigantes, o filme acaba estagnando em repetições de cenas de festas sem muito avanço na trama. Ao invés de intensificar o suspense, essa repetição dissipa a tensão que havia sido sugerida. Quando o terror finalmente entra em cena, os eventos que se desenrolam são tão absurdos que perdem seu impacto. O que deveria ser chocante é previsível, e as explicações fornecidas são insatisfatórias, muitas vezes causando frustração no público.
Naomie Ackie interpreta Frida, a protagonista, mas seu personagem é mal desenvolvido, com pouca profundidade e uma ingenuidade que parece mais apropriada a uma adolescente. Apesar das limitações do roteiro, Ackie entrega uma atuação esforçada, enquanto Jess, interpretada por Shawkat, traz momentos de leveza cômica. Channing Tatum cumpre seu papel como o bilionário anfitrião, mas em certos momentos sua atuação se aproxima da caricatura.
O elenco de apoio é composto por nomes de peso, com destaque para Geena Davis como Stacy, a irmã e assistente de Slater King, e Christian Slater como Vic, o braço direito do bilionário.
Esteticamente, o filme tem um visual atraente, com figurinos e cenários bonitos. A cinematografia elegante de Adam Newport-Berra, com seus cortes rápidos e um design sonoro marcante, contribui para criar uma atmosfera visualmente chamativa.
Pisque Duas Vezes tenta repetir a fórmula de Corra!, de Jordan Peele, com ambos sendo sátiras distópicas que disfarçam um segredo obscuro por trás de uma fachada atraente. No entanto, estruturalmente, os dois filmes divergem bastante: enquanto Peele permite que a tensão cresça naturalmente, Kravitz parece eliminar as partes mais incômodas, deixando apenas uma sensação superficial onde deveria haver ansiedade.
Kravitz tenta utilizar o design de som para gerar desconforto, com sons aparentemente banais, como uma risada alta ou o som de um vape, buscando criar um sentimento de desconforto. No entanto, o roteiro de Pisque Duas Vezes é desajeitado, com soluções de trama forçadas e uma narrativa tão focada em seus temas que acaba falhando em entregar um desfecho satisfatório no terceiro ato.
Embora o filme tenha suas falhas, Kravitz merece elogios por sua ambição em criar um thriller estiloso com crítica social sobre desigualdade e uma perspectiva feminista. No entanto, o roteiro não sustenta essa ambição, e o filme acaba frustrando em seu resultado final.
★★☆☆☆ 2/5
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