Crítica de Oppenheimer
- mindinmaia
- 19 de jul. de 2023
- 4 min de leitura

A espera acabou: aclamado como a maior estreia de 2023, o décimo segundo filme de Christopher Nolan chega e, como uma bomba, devasta todo e qualquer vestígio de mais do mesmo e superestima, adjetivos usados por parte do público para classificar suas obras. E sim, ele inova em muitas formas, principalmente na técnica.

Baseado na biografia “American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer”, de Martin Sherwin e Kai Bird, Oppenheimer narra os bastidores do Projeto Manhattan, que iniciaria a corrida nuclear, na Guerra Fria, englobando eventos anteriores a segunda guerra, durante e após, julgando as consequências morais, éticas e pessoais, de vários
pontos de vista, sobretudo, claro, o do “pai” da bomba atômica.

Nolan, claro, não deixaria de experimentar neste filme. Gravado com filme de 70 mm, a versão para IMAX possui rolo de quase 20 km e mais de 270 kg. Porém, apenas 30 cinemas do mundo podem exibir este formato “ideal” de Oppenheimer. Há quem critique, afirmando que isto torna o cinema ainda mais exclusivo e caro. Há quem aplauda. Uma coisa é certa:
Nolan sempre foi amante da forma tradicional de filmar cinema e tal feito não poderia ter vindo de outro diretor.

Com exceção de alguns detalhes, o filme não possui nenhuma tomada em CGI: todas as três horas de duração foram filmadas nos mais altos padrões dos efeitos práticos e maquiagem. Inclusive o famoso Teste Trinity (explosão teste da primeira bomba nuclear, em Los Alamos, Novo México) foi recriada, com apoio de cientistas. Outro traço do diretor, que explodiu um avião de verdade em seu último filme, Tenet. Mas, não só novidades técnicas Oppenheimer traz. Incomum e, talvez, inédito, o longa possui cenas de nudez e sexo nunca vistas antes, em obras anteriores do diretor, que afirmou que o enfoque serviu para dar peso à narrativa, sobretudo do desenrolar dos acontecimentos entre o casal Oppenheimer.

De fato, o maior triunfo do filme, além das novidades técnicas e estilísticas e do elenco bilionário, é a mescla entre roteiro, edição e trilha sonora. Como é de conhecimento, Christopher costuma montar seus filmes na mais criteriosa edição e mixagem de som, dando a impressão de que nunca cessa. Interestelar (2014), Dunkirk (2017) e Tenet (2020) são exemplos fortes. Aqui, a primorosa mixagem está espetacular, porém, diferente de algumas obras citadas, é Ludwig Göransson (Pantera Negra) quem a concebeu, quebrando um longo casamento com Hans Zimmer (Batman: O Cavaleiro das Trevas). Utilizando cenas em preto e branco e colorido, a direção sugere objetividade e subjetividade ao público, de maneira até
didática, mas não expositiva. E é aí que entra a edição: forte candidata ao próximo Oscar, a edição foi cuidadosamente, milimetricamente e divinamente pensada, repensada e finalizada no maior cuidado que uma produção cinematográfica poder exigir. É correto afirma que, um pequeno deslize desta, deixaria o ato final numa bagunça sem fim. Ao unir todo este primor às composições sonoras, pulsantes e às tomadas monocromáticas, Nolan cria até pequenos momentos de plot twist em narrativas que o público já tem conhecimento externo.

A narrativa é impecável: embora o marketing do filme tenha caído no feito mais famoso do cientista, a bomba nuclear, esta fica apenas em segundo plano. O foco, em grande parte do filme, fica em torno do posicionamento político de Oppenheimer e de todos os ambientes e pessoas com quem se envolveu. Seja simpatizando com ideais ditos liberais e comunistas ou dedicando-se ao Projeto Manhattan, o cientista nunca escondeu seu verdadeiro ideal, sempre ligado ao que defendia, dentro e fora dos meios políticos, científicos ou pessoais.
Do início ao fim, o filme transita nestes picos de personalidade do cientista, como num gráfico senoidal e, assim como a partícula atômica, a dualidade sempre se fez presente na vida dele. A direção, embora flerte, nunca trata o episódio que gerou o fim da segunda guerra como algo digno de orgulho. Pelo contrário, não só mostra a reação dos EUA com a ação da Little Boy
como, a todo momento, através de vários closes, destaca o arrependimento de Oppenheimer em ter “apresentado” a física moderna à américa.

Como já mencionado, o elenco está excelente. Liderado por Cillian Murphy, no papel mais importante de sua carreira, todo os principais atores estão muito bem, com destaque para Robert Downey Jr (Lewis Strauss) e Florence Pugh (Jean Tatlock). Jean é responsável por muitas escolhas do protagonista ao longo da sua vida, principalmente ligadas às diversas
complicações, implicações e condenações de facções militares e governamentais em cima do trabalho de Oppenheimer. Strauss foi marcante de diversas formas na vida do pai da bomba, sobretudo em sua convocação para a equipe da Comissão de Energia Nuclear e no escândalo deflagrado por acusações de traição, pelo governo norte-americano. Estes três personagens giram em torno do núcleo do filme, tal qual elétrons. Os demais estão muito bem, porém, sem o peso narrativo dos citados anteriormente.

Oppenheimer é o típico filme que deve ser assistido da melhor forma possível, apreciando cada detalhe, cada pixel, cada nota. É o trabalho mais longo da filmografia do diretor e, com certeza, um dos mais marcantes do ano. Em uma conversa com Einstein, Oppie fala que fracassou, porque sua bomba “incendiou” o mundo. Seria uma metáfora ao que o diretor pretende fazer daqui pra frente? uma mera crítica aos acontecimentos futuros já
sabidos? Ou seria Christopher Nolan o Prometeu do cinema moderno?
★★★★★ 5/5








Comentários