Crítica de O Auto da Compadecida 2
- mindinmaia
- 12 de dez. de 2024
- 2 min de leitura

Depois de 20 anos, João Grilo e Chicó estão de volta em O Auto da Compadecida 2, continuação do clássico baseado na obra de Ariano Suassuna. Com direção de Guel Arraes e Flávia Lacerda, o filme aposta em humor, emoção e referências ao original, enquanto atualiza a história para um novo público.

A trama se passa com Taperoá transformada pelo avanço tecnológico e cultural. Chicó tenta levar uma vida simples vendendo santinhos, até que João Grilo retorna, trazendo consigo novas confusões. O embate entre o coronelismo tradicional, representado por Ernani (Humberto Martins), e o progresso, liderado por Arlindo (Eduardo Sterblitch), serve de pano de fundo para a comédia e o drama.

A direção combina o toque de Guel Arraes, com a visão contemporânea de Flávia Lacerda, preservando a essência teatral do original. A cenografia utiliza tecnologia para criar uma estética que mistura tradição e modernidade, transportando o público para um sertão reinventado.

Selton Mello e Matheus Nachtergaele retornam aos seus papéis com atuações carregadas de emoção, mantendo a química que conquistou o público. No entanto, em grande parte do tempo, parece que Selton está mais se limitando a uma recriação do personagem, sem adicionar novas camadas. Ainda assim, é evidente que há um sentimento genuíno na interpretação dos dois, e para muitos fãs, esse reencontro emocional pode ser o suficiente para satisfazê-los.

Um destaque especial vai para a forma como Taís Araújo assume o papel de Nossa Senhora, em uma transição que apresenta diferentes representações visuais da Compadecida, ampliando sua simbologia ao representar valores universais como compaixão e justiça. Enquanto Fernanda Montenegro, no filme de 2000, deu vida a essa personagem de forma inesquecível, a escolha de Taís reforça a importância da diversidade e da representatividade no cinema brasileiro, demonstrando que a Compadecida é um símbolo que transcende as aparências e é capaz de se adaptar às transformações culturais e sociais.

A produção aposta na estética de cordel e na teatralidade, reforçando o caráter fantástico e folclórico da história. Essa abordagem, combinada com efeitos visuais modernos, proporciona uma experiência diferente, misturando o tradicional com o inovador. Mas são tantas demandas, somadas à necessidade de incluir novos personagens e participações especiais, acabam sobrecarregando o filme, que soa muitas vezes apressado e sem foco, especialmente no primeiro terço.

Retornar a uma história tão icônica sempre envolve desafios. É preciso trazer algo novo que justifique a sequência, mas também preservar o familiar para que o público possa reviver a conexão com personagens tão queridos. O filme, surpreendentemente, acerta e erra nesses aspectos, gerando confusão, diversão e emoção na mesma medida. Para quem busca relembrar o melhor do cinema brasileiro, O Auto da Compadecida 2 pode ser uma escolha interessante, embora deixe uma sensação de será que era necessário? Não sei, só sei que foi assim! ★★★☆☆ 3/5
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