Crítica de Ninguém Vai Te Salvar
- mindinmaia
- 5 de out. de 2023
- 3 min de leitura

A solidão é uma emoção frequentemente explorada no cinema, independente do gênero. Geralmente, traz consigo uma melhor construção de um tema ou personagem, pois, quando se investe nestes, automaticamente, o diretor direciona o roteiro para nós, pessoas comuns. Quando uma mente criativa foge do tradicional, mantendo a essência, a chance de sua obra dar certo é alta. Em Ninguém Vai Te Salvar, isto ocorre.
É fato que muitas das surpresas cinematográficas dos últimos anos tenham vindo de produções independentes. Nelas, as principais características são o baixo orçamento de produção e o mínimo de interferência nas decisões da direção. Em muitos casos, este ultimo pode ser a linha tênue entre amor e ódio. Felizmente, Brian Duffield acertou em cheio em seu horror alienígena.
Brynn (Kaitlyn Dever), uma mulher carregada de emoções, vive só numa casa afastada do centro de uma pequena cidade onde, aparentemente, todos se conhecem. Numa determinada noite, Brynn percebe que não está sozinha como de costume. Investigando com cuidado, descobre, da maneira mais seca, direta e covarde, que não estamos sozinhos no universo e, dadas as consequências de acontecimentos de seu passado, sua situação é resumida pelo título do longa.

Sim, temos centenas de filmes que tratam de aliens, abduções, guerras, colonização e tudo mais, porém alguns elementos de Ninguém Vai Te Salvar “salvam” o longa da mesmice e de possível receita médica para sono. O diretor, logo no primeiro ato, já desmistifica a ansiedade quanto aos invasores, mostrando como são, como agem e como fazem, coisa que só acontece na metade da maioria dos filmes. O uso de pequenos plots para chegar até o clímax se deu de forma efetiva, uma vez que ele toma o tempo que julga necessário para construir tensão enquanto desenvolve a protagonista. Porém, seu trunfo foi o fato de que, em mais de 90% de película, não há diálogos. A ideia de cortar falas dá um nível de imersão na trama que poucos diretores conseguiram em obras do gênero. Algo bem similar ocorre em Um Lugar Silencioso (2018), quando a mixagem de som é basicamente um personagem.

Brian deixa claro sua base de referência em produções como Além da Imaginação, de onde vem boa parte da inspiração. Porém, alguns easter eggs de produções de sucesso estão lá. O design de produção brinca efetivamente com cores, e elas tem um papel interessante quando há algum contato entres os personagens. A paleta contrasta bem com o roteiro, seja em flashes ou não, acentuando dramaticamente o peso das situações apresentadas.

Inegavelmente, a cereja do bolo é a atuação de Kaitlyn Dever. Carregar um filme de 93 minutos sozinha é extremamente difícil, ainda mais quando tudo tem que vir de suas expressões e atitudes. A atriz está em ascensão, vem de ótimos trabalhos, como as séries Dopesick (Hulu) e Inacreditável (Netflix) mas, aqui, tem seu auge como atriz. Junto ao roteiro bem trabalhado, sua psiquê, traumas, medos e anseios nos são apresentados sem que haja nada além de ruídos ofegantes, gritos, choro e risos.
Assim como em Sinais (2002), a invasão alienígena é só uma alegoria para a condição mental e social da personagem. Sociopatia e depressão são o foco do longa que, em nenhum momento deixa de ser ofegante, seja com as alucinantes sequências de suspense ou conhecendo as verdades da vida que uma pessoa comum carrega por uma série de infortúnios, ainda que involuntários. Assistir Ninguém Vai Te Salvar é dever moral de qualquer fã do gênero Sci-fi, sua conclusão em aberto ainda pode gerar horas de debates. E eles irão ocorrer!
★★★★☆ 4/5
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