Crítica de Conclave
- mindinmaia
- 1 de fev.
- 3 min de leitura

A adaptação cinematográfica da obra de Robert Harris se apresenta como um projeto ousado e instigante, transportando para as telas uma narrativa que mescla suspense, drama e um estudo aprofundado sobre os dilemas sociais e morais dentro do catolicismo. A fidelidade ao material original é um dos trunfos do filme, que se destaca pela imersão proporcionada por sua direção precisa e envolvente.

O enredo se desenrola a partir da morte inesperada do Papa, o Cardeal Lomeli (Ralph Fiennes) se vê no centro de um dos momentos mais decisivos da Igreja: a escolha do próximo pontífice. A pedido do próprio falecido, ele assume a responsabilidade pelo Conclave, enquanto líderes mundiais desembarcam no Vaticano para acompanhar o processo. Mas o que deveria ser apenas uma votação sagrada logo se revela um jogo perigoso, repleto de corrupção e segredos que podem estremecer não só a eleição, mas a própria instituição.

Edward Berger, ciente de que o tema pode parecer denso para quem não está habituado ao universo religioso, toma um caminho diferente. Em vez de um drama solene, ele molda a trama como um thriller político digno de House of Cards, transportando toda a tensão para dentro dos muros do Vaticano.
O roteiro explora com profundidade esses conflitos, utilizando-se de diálogos carregados de emoção e significado para evidenciar as divergências filosóficas entre os personagens. O filme se sobressai ao transformar esse embate em um elemento narrativo central, que mantém o espectador atento e reflexivo ao longo de sua duração.

Um dos pontos altos de Conclave é, sem dúvida, sua ambientação. A direção de arte e a cinematografia capturam com riqueza de detalhes a arquitetura católica, empregando simbolismos que reforçam a atmosfera do filme. O uso de luz e sombra é particularmente eficaz na criação de um clima que oscila entre a opressão e a serenidade, conforme a trama se desenrola. Esses aspectos visuais, combinados com uma trilha sonora precisa, elevam a imersão do público, tornando cada cena visualmente impactante e cheia de significado.

No que diz respeito às atuações, os atores entregam performances intensas e marcantes. O protagonista, em especial, conduz a narrativa com uma presença forte e impositiva, criando momentos de tensão e confronto que se traduzem em um verdadeiro turbilhão emocional para o espectador. Até mesmo os figurantes exercem um papel essencial na construção da atmosfera, contribuindo para a autenticidade da obra.

John Lithgow pode até não ter tanto tempo de tela, mas sua presença é fundamental para a trama. E, quando a cena exige, ele domina completamente, especialmente em um momento intenso ao lado de Isabella Rossellini. Aliás, essa sequência foi tão marcante que rendeu a Rossellini uma indicação ao Oscar.

Conclave é um filme que vai além do entretenimento e propõe uma reflexão profunda sobre a atuação da Igreja ao longo da história. A abordagem de questões sensíveis pode gerar desconforto, especialmente entre os mais religiosos e conservadores, mas também abre espaço para um debate necessário sobre o papel das instituições religiosas na sociedade contemporânea. Mesmo aqueles que não possuem uma conexão direta com o catolicismo podem encontrar na obra um convite para questionar e refletir sobre temas universais.

No conjunto da obra, Conclave se destaca como um thriller político-religioso envolvente e provocador. Seu roteiro bem estruturado, atuações impecáveis e um trabalho técnico primoroso fazem deste um filme digno de atenção, seja pelo seu valor estético, seja pela discussão que promove. Um filme que, sem dúvida, deixa sua marca e convida o espectador a refletir muito além da tela.
★★★★☆ 4/5
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