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Crítica de Ainda Estou Aqui

  • mindinmaia
  • 26 de nov. de 2024
  • 4 min de leitura

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Ainda Estou Aqui é uma obra-prima do cinema brasileiro dirigida por Walter Salles, renomado também por seu trabalho em Central do Brasil, entre outros títulos. O filme reúne um elenco de peso, com nomes como Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro, que entregam performances inesquecíveis. Baseado em fatos reais, o longa é uma coprodução entre Brasil e França, o primeiro original da Globoplay, com produção da VideoFilmes, RTFeatures e MactProdutions em parceria com a ARTE France e Conspiração. No qual retrata de maneira intensa e tocante os horrores da ditadura militar, ao mostrar uma família que, de forma repentina, é forçada a lidar com as dores e consequências desse regime opressor.


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O núcleo central da história é composto por Rubens (Selton Mello), Eunice (vivida em diferentes fases por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro) e seus cinco filhos: Vera, Eliana, Ana Lúcia, Maria Beatriz e Marcelo. Desde o início, somos apresentados a uma dinâmica familiar de forma surpreendentemente cativante e espontânea, com uma direção de arte impecável que recria as características mais marcantes e sutis dos anos 70. Essa ambientação nos situa em um contexto temporal e espacial no qual é possível perceber, de maneira crescente, os reflexos da ditadura militar na sociedade e na rotina brasileira.


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O longa nos faz apaixonar por Rubens, Eunice, seus filhos e até pelo cachorro Pimpão. Cada personagem revela sua personalidade logo nos primeiros momentos. Entre os filhos, destacam-se Vera, com uma postura rebelde e livre, perigosa para a época, e Eliana, cujo respeito e admiração pelo pai são evidentes. Eunice, protagonista do filme, é uma personagem complexa e multifacetada. De forma superficial, pode ser descrita como uma mulher forte, mãe e esposa dedicada, zelosa pela segurança de sua família diante da situação política do país. Rubens, por sua vez, é um ex-deputado e engenheiro cuja personalidade sonhadora e esperançosa contrasta com sua inquietação frente ao regime militar. É evidente seu amor pela esposa e pelos filhos.

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O núcleo familiar transborda felicidade: uma casa sempre cheia de vida e alegria. Contudo, essa harmonia é abruptamente interrompida quando, em um dia comum, agentes invadem o lar e levam Rubens “para responder algumas perguntas”. A cena é como um golpe seco: arrancam-no da família como quem corta um membro e deixa a ferida aberta, sem qualquer preocupação com a dor ou o vazio deixado para trás. O desespero de Eunice e o medo que invade o ambiente são tão intensos que transbordam para o espectador. A atuação e a direção nos fazem sentir na pele a angústia e o vazio provocados pela ausência de Rubens.


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O desenrolar dos acontecimentos é brutal. Vemos Eunice, inicialmente perdida em casa, nutrindo a esperança do retorno do marido. Mais tarde, ela e uma de suas filhas são levadas para “responder perguntas” e ela é mantida presa por dias, presenciando e ouvindo cenas de tortura e outras atrocidades. O filme escancara a dura realidade da ditadura, como um soco no estômago. É impossível não se emocionar ao testemunhar a força de Eunice, que, apesar de toda a dor, consegue criar seus cinco filhos. Fernanda Torres entrega uma atuação magistral, carregando o peso emocional do filme do início ao fim.


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Um salto temporal de 25 anos nos mostra Eunice formada em Direito e seus filhos já adultos. Em 1996, ela finalmente recebe o atestado de óbito de Rubens, um momento agridoce que mistura o alívio de uma confirmação oficial com a dor pela injustiça de tudo o que a família perdeu. Em 2014, já idosa e com a saúde fragilizada, Eunice assiste a uma reportagem que homenageia Rubens como uma das figuras de resistência ao regime militar. Esse reconhecimento tardio traz um tom melancólico à narrativa, destacando o preço pago por aqueles que ousaram lutar contra a repressão.


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Walter Salles e sua equipe abordam um tema delicado e essencial para o Brasil com respeito, coragem e maestria. A atuação de Fernanda Torres e Selton Mello é o coração pulsante do filme, que entrega uma produção de altíssima qualidade. A obra nos faz sentir, ainda que minimamente, a angústia, o medo e o desespero vividos pelas famílias durante a ditadura militar.


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Como um diretor impressionista que é, Walter Salles cortou todas as cenas em que Fernanda Torres chorava. Poderia filmar o caso da Eunice com códigos de atuação que a gente conhece, que funcionam e são bons. Mas ele não nos proporcionou isso. Eunice é tão especial que não coube cena de choro, de revolta. O filme não te empurra com música. Com planos de câmera. Walter desapareceu no filme. Ele tentou ser honestos com uma impressão de memória que ele tinha daquela casa (da família Paiva, que o cineasta frequentou quando criança). Isso trouxe à atuação uma espécie de contenção que nunca vimos. Quando se contém a emoção, ela explode de uma maneira honesta. Isso fez emergir sutilezas que Fernanda Torres nunca havia experimentado na atuação. Esse nível de realismo, de honestidade foi muito pela mão e sensibilidade dele.

Mais do que um filme, Ainda Estou Aqui é um manifesto social de extrema relevância. Revisitar a história do Brasil é crucial para garantir que erros do passado não se repitam. É uma obra obrigatória para todo brasileiro, que nos emociona e nos conscientiza sobre o quanto o regime militar foi perverso e criminoso. Uma experiência cinematográfica poderosa e inesquecível, que merece ser vista nas telonas. ★★★★★ 5/5


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