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Crítica de Maria Callas

  • mindinmaia
  • 14 de jan.
  • 3 min de leitura

Maria Callas ou Maria chega às telas dia 1 de fevereiro de 2025, como uma obra profundamente melancólica, que mergulha nos últimos dias da lendária soprano Maria Callas, focando na semana anterior à sua morte, em 16 de setembro de 1977, em Paris. A escolha por retratar esse momento específico, longe do auge da carreira da cantora, opta por explorar as sombras e a dor que marcaram o fim de sua vida, antes do desfecho trágico. O resultado é um filme sensível, mas imersivo, que se desvia da trajetória convencional das biografias cinematográficas ao focar no lado mais obscuro e doloroso da vida de Callas.


O tom melancólico do filme é estabelecido de maneira eficaz pela direção e pela cinematografia. A obra busca não apenas contar a história, mas sim transpor o público para a mente perturbada de Maria Callas, em uma constante oscilação entre sanidade e insanidade.



A edição e a fotografia, com cores e efeitos marcantes e montagem inteligente, são instrumentos preciosos para transmitir uma personalidade, ambientação e instabilidade emocional, trazendo à tona os efeitos do abuso de medicamentos e da depressão que assolavam a cantora.



A câmera aproxima-se dela como um espectador silencioso, capturando não apenas as palavras, mas também os gestos, os olhares vazios e os momentos de desconexão com a realidade.


Um dos recursos mais interessantes do filme é a construção da ilusão de uma entrevista. Neste exercício quase terapêutico, Maria Callas se vê diante de uma câmera, e um entrevistador (que não existe), este recurso é usado como um mecanismo para "resolver" suas questões internas. Nesse momento, ela reflete sobre os maiores dilemas de sua vida – suas frustrações com a mãe, a paixão e traição de Onassis, as expectativas do público e a crueldade da mídia.



É como se ela estivesse escrevendo uma autobiografia em sua mente, tentando processar e entender os acontecimentos que marcaram sua existência. Esse recurso ajuda a humanizar ainda mais a personagem, revelando uma mulher que, apesar da fama, era dilacerada por suas próprias memórias.


No papel de Maria Callas, Angelina Jolie é inegavelmente competente em sua interpretação, conduzindo o filme com a sensibilidade necessária para retratar a dor e a vulnerabilidade da diva. Sua atuação é, sem dúvida, o ponto alto do filme, demonstrando uma grande carga emocional, que é, ao mesmo tempo, perturbadora e tocante.



No entanto, uma questão persiste: a magnitude de Angelina Jolie, como estrela, acaba por ofuscar um pouco a figura de Callas. Sua presença é tão imponente que, em alguns momentos, parece que estamos assistindo a uma interpretação de Jolie, mais do que a uma encarnação verdadeira de Maria Callas. Essa desconexão pode prejudicar a imersão de quem busca ver apenas a soprano, sem a forte identidade da atriz que a interpreta.


O filme não foca muito nos momentos de glória de Callas, mas em sua dor. Sua saúde deteriorada, os abusos de substâncias, a solidão imposta pela depressão e a sensação de que sua única razão de existir era a ópera são temas centrais. A personagem se recusa a aceitar a realidade de sua decadência vocal e física, imersa em um passado glorioso e em um futuro que nunca se concretizará.



Essa luta interna é devastadora e o filme retrata isso com uma honestidade crua. Ao ver a protagonista relutante em buscar ajuda médica e se afundando cada vez mais nas alucinações causadas pelos remédios, o público é levado a entender a tragédia de uma mulher que sabia o fim que a esperava, mas não conseguia encará-lo de frente.


Outro ponto que merece destaque é a relação de Callas com seus empregados, que mais pareciam sua verdadeira família do que simples servos. A governanta e o “motorista”, personagens quase secundários, são fundamentais para a construção do drama, representando os únicos laços de afeto genuíno que Maria ainda mantinha em sua vida. Eles não apenas cuidam dela fisicamente, mas também assumem papéis emocionais complexos, tentando, com amor, manter a cantora com os pés no chão, apesar de sua crescente alienação.



Maria Callas ou simplesmente Maria é uma obra densa, tocante e dolorosa, que consegue capturar a essência da tragédia humana por meio de uma das vozes mais icônicas da história. O filme se destaca pela coragem de retratar uma figura pública em seus momentos de fraqueza e sofrimento, abordando a depressão e o abandono emocional que marcaram os últimos anos de Maria Callas. A interpretação de Angelina Jolie, apesar de algumas reservas quanto à sua capacidade de incorporar completamente a figura de Callas, é uma poderosa representação da dor e da melancolia que permeavam sua vida.


Ao final, o filme se torna um reflexo do próprio legado de Maria Callas, uma obra de beleza incomparável, mas marcada por tragédia, solidão e uma busca incessante por redenção que jamais viria.

★★★★☆ 4/5

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