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Crítica de Ataque dos Cães

  • mindinmaia
  • 4 de mar. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 28 de jun. de 2022



Surgidos no início do século XX, os chamados filmes western tinham a missão de narrar, das mais variadas formas, o que acontecia no oeste norte-americano, devido às incursões expansivas e, sobretudo, numa forma de romantizar os conflitos e massacres que ali ocorriam.


Desde o curta de Edwin S. Porter, em 1903, intitulado O Grande Roubo do Trem, o cinema western passou por diversas e necessárias transformações ao longo dos mais de cem

anos de película, passando pelos sucessos de Sergio Leone e Clint Eastwood, onde o “bang bang”, a narrativa simples e as trilhas de Morricone ditavam as regras do faroeste perfeito.


Assim, algumas poucas produções ousavam desviar da fórmula, firmada e agraciada mundo afora. Um exemplo recente é o excelente O Segredo de Brokeback Mountain (2005), de

Ang Lee, narrando o romance entre dois cowboys, iniciado ainda nos anos 60. O longa trouxe ao cinema o ápice do processo de humanização dos sentimentos de um vaqueiro, esquecida

pelo gênero ao longo da grande maioria dos longas, temáticas onde a vingança desenfreada, a morte e o poder reinavam.



Em Ataque dos Cães, Jane Campion traz à tona as consequências da repressão do desejo e da inquietação por um amor incomum, ao menos, por hora. Adaptado do romance homônimo de Thomas Savage, de 1967, Campion utiliza de diversas convenções de gênero para causar tensão, gerar conflito e sugerir, da melhor forma, detalhes das resoluções nas pontas de cada personagem.


Nos anos 1920, em Montana, os irmãos George (Jesse Plemons) e Phil Burbank (Benedict Cumberbatch) tomam as rédeas das fazendas dos pais, considerados em idade senil para tal função, porém, não menos influentes. Somos apresentados a dois irmãos bem distintos: enquanto George é um homem solícito, gentil e charmoso, Phil se mostra num estereótipo contrário, sendo a arrogância e o machismo suas principais características.



Após eventos durante uma estadia na propriedade da viúva Rose Gordon (Kirsten Dunst), George, que já nutria sentimentos por ela, a pede em casamento. Temendo um golpe de sua cunhada,

Phil logo inicia uma forma impossível de convívio, principalmente em relação ao filho sensível de Rose, Peter (Kodi Smit-McPhee).


À medida em que a história avança, fica evidente que, em outras mãos, não teríamos um resultado tão eficaz. Jane Campion extrai o máximo de seu elenco, substituindo palavras óbvias por olhares trocados, carícias num ombro e banhos secretos. Mérito da equipe de casting. O destaque fica para Benedict que, segundo rumores, até ficou sem tomar banho para viver o personagem.

Piadas à parte, o ator britânico encarna um cowboy durão no que faz, ranzinza mas, que lá no fundo, tem um segredo que Campion vai revelando com a maestria de poucos.


Duas cenas definem bem a mistura perfeita entre atuação e direção: guerra entre banjo e piano e um momento de relaxamento, num lugar recluso. Kirsten faz uma viúva claramente abalada pela morte recente de seu marido, porém, seu semblante ainda carrega uma aura de culpa e preocupação pelo futuro do seu filho, sentimento que vai mudando quando conhece George.



Peter é um rapaz recluso, sensível, totalmente dedicado à mãe, principalmente em suas tarefas nos negócios da família. Kodi transmite de forma primorosa todas as características palpáveis, inclusive aquelas mais profundas, geradas pelo convívio com os

Burbank, principalmente Phil, por quem nutre desdém e, ao mesmo tempo, afeto.


Enquanto Plemons transmite um marido e irmão calmo, sendo o personagem em que mais nos

identificamos quando algum conflito surge e precisamos que alguém apague o fogo.


A Cinematografia de Ari Wegner é precisa e, em vezes, lembrando planos do mestre John Ford. A fotografia, hora pálida, hora colorida, varia de acordo com a situação, sendo

utilizada, em sua maioria, em grandes planos abertos.

Jane Campion utiliza de muitos artifícios que deram muito certo em seu premiado O Piano (1993), sobretudo aos sentimentos atrelados a instrumentos musicais.



Assim, como um piano foi o centro de sua narrativa no longa noventista, em Ataque dos Cães ela amplia o número de objetos e atribui sentimentos, geralmente reprimidos, a cada um: um pente nervoso, um piano esperançoso, um lenço tentador, um banjo intimidador e um bisturi determinante.


Talvez, a ausência de um Lee Van Cleef como vilão distancie algumas pessoas desta obra, porém, é inimaginável combater um inimigo como ele, quando se está em sua essência, em sua força, em sua fraqueza. E é toda essa selvageria que Campion explicita em atos sufocantes e tocantes, protagonizados por um ator em seu auge. Assim, Ataque dos Cães entrega um western moderno, humano e, por que não, selvagem.


★★★★☆ 4/5

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