Crítica de A Tragédia de Macbeth
- mindinmaia
- 11 de mar. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de jun. de 2022

Tragicomédia sempre foi o ponto forte das produções dos irmãos Coen. Além de ótimos filmes saídos das caixolas da dupla, podemos ainda contar com releituras bastante receptivas de clássicos do cinema e adaptações primorosas. Adaptar uma obra de Shakespeare, além de não ser uma novidade para o cinema, também não se fazia necessário, afinal, faltam dedos nas mãos para contar quantas versões de MacBeth temos para as telinhas. Em se tratando dos irmãos Coen, na verdade, Joel, não se pode esperar menos que um trabalho bom.

A trama, já conhecida, se passa no século XI, narrando as peripécias do Lord MacBeth (Denzel Washington), general e parente próximo do rei da Escócia, Duncan (Brendan Gleeson), que, junto a seu amigo Banquo (Bertie Carvel), vitoriosos em batalha, se deparam com três bruxas (Kathryn Hunter), no caminho de volta ao lar. Elas fazem profecias aos dois, dizendo que, breve, MacBeth será rei e que os filhos de Banquo farão parte da soberania monárquica. Servindo de base para muitas histórias subsequentes, as obras de Shakespeare sempre tiveram como ponto forte a tragédia, a comédia ou as duas narrativas, juntas, mas, aqui, o título já sugere o que esperar.

Ainda assim, Joel Coen, ao lado de sua esposa, a atriz Frances McDormand, que interpreta Lady MacBeth, se debruça numa narrativa em que o tom de comédia é conseguido através das inúmeras desventuras que o casal se mete, para realizar o que a profecia prometera. Aliás, aos apreciadores das obras dos irmãos, esta característica não é nenhuma novidade, visto que O Grande Lebowski (1998), Onde os Fracos Não Têm Vez (2007) e Fargo (1996) são exemplos ótimos de como a direção vai desconstruindo personagens na medida em que ganham novos atributos e, assim, novas características. Pode-se dizer que os protagonistas dos Coen são como répteis, trocando de pele.

A grande lição aqui continua sendo o embate entre moralidade e destino, marcas registradas em qualquer obra adaptada do regicídio em discussão. Porém, é na cinematografia de Bruno Delbonnel (A Balada de Buster Scruggs) que o filme brilha. Os tons de cinza caíram como uma luva na narrativa, que conta com um excelente design de produção, condizente com os enquadramentos precisos de câmera. Esse conjunto de características lembram um pouco do que se viu em Dogville (2003), porém, o jogo de luzes e sombras favorecem bastante a qualidade e a importância da cena, logo, influencia muito no resultado junto às atuações.

Falando nelas, temos aqui o suficiente. Notadamente, temos uma peça encenada para o cinema, assim, a maioria dos atores, com início de carreira no teatro, entregam performances que vão do atuante ao deslumbrante, como McDormand e Gleeson.
Denzel entrega um MacBeth à altura dos melhores do cinema, como o de Orson Welles, em 1948, Akira Kurosawa, em 1957 e Roman Polanski, em 1971. A culpa que o personagem de Denzel carrega após os eventos é palpável, porém, a insensibilidade é o maior atributo almejado pelo ator. De contraponto, temos uma Lady MacBeth que brilha ainda mais, não só pelos delírios da culpa e do arrependimento, mas pela forma como tudo se dispôs a acontecer.
A tragédia de MacBeth de Coen é uma obra minimalista que enaltece, não só o cinema de gênero, como também presta homenagem ao teatro e à magia de séculos de encenação. É diferente? Sim. Seis anos após a última adaptação, o longa em questão não traz emulação, muito menos é pedante em direção, o que faz da experiência um tanto quanto necessária.
★★★★☆ 4/5
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