Crítica de A Sociedade da Neve
- mindinmaia
- 21 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
A Sociedade da Neve é um filme que foi lançado em 15 de dezembro de 2023 pela Netflix em cinemas selecionados e 4 de Janeiro no streaming, recentemente indicado ao Oscar 2024 na categoria de "Melhor Filme Internacional" dirigido e roteirizado pelo espanhol Juan Antonio Bayona, Bernat Vilaplana é um dos roteiristas, também concorre a categoria de melhor cabelo e maquiagem.
O filme conta uma história real da década de 70 baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, onde o voo 571 da Força Aérea Uruguaia transportava uma equipe de rugby para o Chile porém fatalmente o avião acaba caindo em uma geleira na Cordilheira dos Andes. Apenas 29 dos 45 passageiros sobreviveram ao impacto do acidente, e ainda assim, tiveram que lutar para sobreviver em condições extremas de temperatura e fome, além de ter que conviver com a incerteza de que um dia seriam resgatados, "O que acontece quando o mundo te abandona? Quando você não tem roupa e tá congelando? Quando você não tem comida e tá morrendo?".
O longa é um drama realista que acaba não contando com nenhuma estrela de Hollywood e mesmo assim possui atuações de tirar o chapéu, atuações que muitas das vezes não precisavam de palavras para o público conseguir entender suas emoções, um roteiro com diálogos inteligentes e bem colocados, reforçando o tom de tragédia, seriedade e realidade nua e crua que o filme tem. Além de ser uma história real e de sobrevivência, o filme consegue ir muito além disso trabalhando temas e situações delicadas com maestria.
O filme conta com muitos personagens e às vezes se torna confuso identificar quem é quem, embora olhando com outra ótica, é importante o senso de que todos que estão ali são importantes e que não tem nenhum protagonista ou herói, todos os passageiros tem nome e data de nascimento mencionados no filme.
A maior controvérsia deste caso reside no canibalismo praticado pelos rapazes para sobreviver e se alimentar. O filme aborda essa temática de forma impressionante, mesclando uma certa leveza com a seriedade necessária para não subestimar o peso ético e moral dessa ação. Ao longo da narrativa, a discussão sobre as circunstâncias em que o canibalismo poderia ser considerado aceitável surge de maneira provocativa: Seria nunca? Ou talvez em situações extremas, como a necessidade de salvar outras vidas? Esta é uma questão que continua a ser debatida e problematizada. É improvável que a humanidade chegue a um consenso definitivo sobre essa prática, pois envolve dilemas complexos que desafiam nossos valores e noções de humanidade.
A fotografia e a trilha sonora contribuem muito positivamente, trazendo a ambientação necessária e a emoção que a cena quer passar no momento. Chega a ser constrangedor achar as paisagens e fotografias tão bonitas diante de um cenário tão horrível.
14 sobreviventes do acidente ainda estão vivos nos dias de hoje e o diretor conversou com eles que acabaram ajudando muito na construção da história e de suas emoções, e com isso, o filme não apenas documenta uma tragédia mas tem um tom reflexivo e inspirador que faz com que o público se comova de verdade com a situação dos personagens e sinta toda a tensão presente na maioria dos momentos e o alívio na hora do resgate, principalmente na hora que eles estão se arrumando para receber o resgate, uma cena que não têm muito diálogo mas passa uma emoção de compaixão e empatia surreal.
A sociedade da neve é um filme que envolve muito respeito em temas delicados, tendo muito cuidado na construção de sua história e execução para que horne minimamente os envolvidos e não seja tão sensacionalista, conta com muito empenho de seus atores, que tiveram que ir para neve, emagrecer de forma extrema, ir inclusive até o local do acidente. É de fato um filmaço, pesado porém muito bem feito e cuidadoso, merece bastante todas as premiações que já recebeu e que ainda estão por vir.
★★★★★ 5/5
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