Critica: Last Night in Soho
- mindinmaia
- 25 de nov. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de jun. de 2022

Revisitando os sucessos da filmografia do inglês Edgar Wright, fica evidente que o diretor e roteirista é um mestre no que se refere ao saudosismo temporal. Deu sinais de forma marcante na adaptação de Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010) e chutou o pau da barraca com Baby Driver (2017), porém a mescla perfeita entre nostalgia e originalidade ficou em seu mais novo (e melhor) trabalho, Noite Passada em Soho.
Recém chegada a Londres contemporânea, Eloise (Thomasin McKenzie), uma jovem estudante de moda, vinda do interior, se muda para uma casa no bairro de Soho. A garota, no entanto, começa a ter sonhos e devaneios com uma garota chamada Sandie (Anya Taylor-Joy), cujo figurino e ambientação datam da década de 60. Krysty Wilson-Cairns, conhecida por seu exímio trabalho em 1917 (2019), nos entrega, junto ao diretor, uma perfeita experiência sensorial ainda nos primeiros minutos de filme, mesclando uma neurótica trilha sonora com a montagem pseudo-explicativa que é sugerida. Aliás, Edgar é clínico em sequências como estas. Ainda no primeiro ato, percebe-se uma clara e íntima homenagens a alguns gêneros do cinema, sobretudo o Giallo, já nos entregando o que esperar dos minutos seguintes.

E é justamente o que acontece: Wright usa e abusa de clássicos do horror/terror britânico, narrando a transição de uma vida pacata de uma sonhadora estudante de moda do interior da Inglaterra para o inferno glamouroso da nostalgia não correspondida (ou, ligeiramente brochante), fazendo com que as duas realidades se entrelacem de forma orgânica, onde o apodrecimento dos sonhos de Eloise e Sandie se inicia a partir de atos violentos contra as duas. É quando a genialidade do diretor entra, evocando Repulsa ao Sexo (1965) e A Tortura do Medo (1960) e deixando Dario Argento com um sorriso largo.

McKenzie e Taylor-Joy estão impecáveis em seus papéis, mostrando as nuances e realidades de ser mulher em décadas tão distintas e próximas, ao mesmo tempo. A misoginia e a total falta de apreço por qualquer qualidade das protagonistas, elevam-nas ao máximo da paranoia, fazendo com que todo aquele apreço e saudosismo se transforme, lentamente, numa máscara, esta, prestes a revelar a verdadeira persona de cada uma, galgando o filme para um último ato de obscuridade, onde o macabro e o hediondo brincam juntos. O principal problema dessa mudança de tom é o estranhamento que pode ser criado por quem assiste, já que elementos sobrenaturais, que sondavam o filme na primeira meia hora, se tornam clichês quando os plots se iniciam, ou ainda quando se matam as charadas.

Noite Passada em Soho é um verdadeiro exercício de desligamento das nostalgias que tanto criamos sobre algo ou alguém, te faz sonhar e te traz ao chão, em segundos e, nestes mesmos, te leva do céu ao inferno. É o casamento perfeito entre Donnie Darko (2001) e Horse Girl (2020) e um dos melhores longas do ano.
★★★★☆ 4/5
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